é sábado à noite ("sábado à noite a malta toda vai sair") - é certo, eles foram. eu cortei-me à ultima da hora. preferi a cama. o pijama. o quente. e com isso ainda consegui assistir à chegada da minha irmã (mais nova) a casa. e ela sim já deveria estar a dormir há horas, em casa porque quem deveria chegar tarde a casa num sábado era eu. mas não. está tudo trocado e as coisas já não são o que eram. ricas balelas! uns crescem e os outros envelhecem é o que é. o tempo passa para todos e às vezes acho que nem damos por ela. e a sensação é esta. mas sabem qual a melhor coisa no meio disto tudo?! é não sentir a falta de nadinha do que poderia estar lá fora. a casinha sabe tão bemmmm!

sexta-feira: um banho relaxante. roupa quente. um bom jantar. os livros, os cadernos e ela, que começa a ser indipensável. uma noite como tantas outras, minha.

hoje foi um deles e eu começo a ficar cansado, mesmo cansado. cansado de nem reparar que começa a escurecer. cansado de chegar a casa quando já não há luz. cansado de passar mais de 12 horas fora de casa. cansado de nem reparar no passar das horas porque só vejo o relógio de manhã. de trabalhar 10h quando deveriam ser 8. de fazer 36 coisas em 8 horas. de querer me levantar para poder apanhar ar e não conseguir pois a consciência consegue sempre pesar mais do que a vontade, e então fico na minha cadeira. cansado dos tremeliques do meu olho esquerdo que não param. cansado de me dizerem para ter mais calma. cansado que me digam 'olha a saúde'. cansado de acordar cedo e deitar cada vez mais tarde. cansado da chuva. cansado das dores de cabeça. cansado de trabalhar com dores de cabeça e não poder ir directo para casa. cansado de não jantar em casa. cansado de ter de escrever a olhar para o canto inferior direito deste ecrã para não me esticar nas horas.

existe qualquer coisa no IKEA que faz, pessoas como eu, sairem de lá com cara de tontos.

sabes, eu vou-te contar uma coisa, é muito feio invadir o sono dos outros. principalmente quando se está a dormir bem. invades-me o sono, com sonhos que já não posso ter. e ultimamente não são apenas os sonhos. são as horas vazias. os domingos à tarde. as manhãs de preguiça. os momentos meus dos meus dias. e tu sabes, tu sabes como a minha cabeça voa. tu sabes, tu sabes que eu sinto, o quanto eu sinto. eu sinto tudo. não sou de aço, nem de ferro, nem de qualquer outro constituinte metálico. sou de carne, sangue e sentimentos. tu conheces-me, conhecias-bem. tu sabes. e tu sabes que eu sei. tu sabes que eu sei que tu sabes, sempre soubeste.

é domingo e chove. há bolo e aletria. manta no sofá e luz pastel. o clima perfeito para colocar os episódios todos em dia e sonhar.

se conseguisse saber o que pensas. o que vai na tua cabeça quando falas. de mim ou para mim. e se me olhas e vês quem sou. e o que fui. se pudesse perceber o que ficas sempre por dizer. porque quando entras, entras sempre apenas com um pé e deixas o outro em forma de ponto de interrogaçao. o ponto que me acompanha e me leva a escrever. se conseguisse me aperceber disso tudo. se conseguisse, talvez não fosse querer saber.

chega uma altura em que sentimos mesmo saudades daquilo que faziamos. e as coisas passam. o tempo passa de uma maneira tão repentina e fugaz que nem nos apercebemos em tempo real de quem realmente somos. e do que realmente gostamos de fazer. do que nos completa. do que nos dá vida. o que nos faz sorrir. hoje de manhã, num dos meus trezentos mil e trinta e sete pensamentos senti que sentia saudades. saudades de quê? perguntam. d'isto.

Porque nas entrelinhas podemos dizer bem mais do que palavras. bem mais do que lemos, é aquilo que sentimos.

Até.

Nunca é tarde. Nada é impossível. Não é clichê, é vontade de.

"as mulheres chamam-me egoísta, os homens de vaidoso(...)"

Sou feito de papel e tinta, pelo menos neste momento em que os vossos olhos deslizam sobre este texto. O conteúdo antes da forma. A moral de perna ao léu, correndo do fim da história para o seu início, poupando-vos a mariquice das entrelinhas. O caos em vez do corrimão de aforismo. Convém-vos? É-me indiferente o que vos convém, o modo como vos ensinaram a ler. Introdução, desenvolvimento, conclusão. Um enredo amorosamente bordado, capítulo a capítulo, com personagens espreguiçando-se nos lençóis da prosa, despindo-se da banalidade inaugural para nos desvendarem as suas almas repletas de cambiantes até ao clímax, de preferência trágico. A tragédia cai sempre bem, confere-nos umas sombras de sagacidade. Muita palha para criar ambiente, um celeiro cheio de crepúsculos dolentes e episódios marginais. Tralha, comboios de móveis e acessórios. Sou homem, não gosto de ler romances.

Eu caminho, tropeço e também caio. vou ao fundo, vou. Mas eu subo. Eu falo, comunico. Eu rio, e às vezes rio tanto que até choro de tanto rir. Mas também choro, sem me querer rir. Percorro mundos mas também fico no meu canto. Às vezes é preciso sabermos ficar no nosso lugar. Cometo erros, sim. Mas acredito. Eu ainda acredito.

às vezes é preciso sair um bocado mais cedo e chegar a casa ainda com um bocado de sol na janela para perceber que mesmo estando longe, e mesmo não estando, que estou sempre, existe Vida. porque, nada do que eu disse antes interessa, se não te sentes nem te sabes sentir assim, Vivo. e há tanta mas tanta coisa para dizer. para Te dizer.

por vezes era tão bom se deixassem de olhar e parassem para ver.