Sou feito de papel e tinta, pelo menos neste momento em que os vossos olhos deslizam sobre este texto. O conteúdo antes da forma. A moral de perna ao léu, correndo do fim da história para o seu início, poupando-vos a mariquice das entrelinhas. O caos em vez do corrimão de aforismo. Convém-vos? É-me indiferente o que vos convém, o modo como vos ensinaram a ler. Introdução, desenvolvimento, conclusão. Um enredo amorosamente bordado, capítulo a capítulo, com personagens espreguiçando-se nos lençóis da prosa, despindo-se da banalidade inaugural para nos desvendarem as suas almas repletas de cambiantes até ao clímax, de preferência trágico. A tragédia cai sempre bem, confere-nos umas sombras de sagacidade. Muita palha para criar ambiente, um celeiro cheio de crepúsculos dolentes e episódios marginais. Tralha, comboios de móveis e acessórios. Sou homem, não gosto de ler romances.