onde quer que estejas.

pensei que tão cedo não quisesse escrever.jamais alguma vez pensei em escrever sobre isto. jamais pensei. aconteceu. mas são tantas as coisas que têm acontecido sem eu esperar. tanta coisa aconteceu. o tempo passou. as lágrimas cairam. o desespero chegou. com ele trouxe toda tristeza atrás. e vai ser tudo tão difícil a partir de agora. tão dificil entrar naquela casa e já não te ver. não te ouvir. não te cumprimentar. não te sentir. não te abraçar. o meu chão caiu. fiquei sem tecto. sem luz. sem céu. tudo parou. estagnou como um lago parado. esquecido no mundo. a apatia. o choque. como é possivel... pergunto-me eu, tantas vezes. foi assim tão de repente. isto nunca me aconteceu e há certas coisas na vida que não trazem manual de instruções. e eu não estava a contar, e tu estavas?! foste-te. eu nem me despedi. e tu notavas tanto se eu não me despedia de ti. ficavas tão triste com isso. eu sei que ficavas. e às vezes até usava isso quando te queria chamar atenção. isto porque sou orgulhoso como tu eras. como é que tu não te despediste de mim?! não tiveste tempo, não foi? não te deixaram despedires-te de mim, não foi? sinto tanto por isso... tanto, por não me ter despedido de ti. tanto por não ter segurado nas tuas mãos enquanto elas ainda estavam quentes. onde quer que tu estejas, eu despedi-me de ti depois. despedi-me. fui eu ter contigo. agradeci-te. homenagiei-te. disse tanta coisa. porém sei que ainda haveria tanta coisa por dizer. o que não disse, secalhar foi apenas pelas emoções nem sempre conseguirem deixar sair direito as palavras como queremos que elas saiam. mas espero ter sido claro. sabes, tenho me lembrado tanto de ti... da minha infânca feliz... fui muito feliz sabias?! sabes porquê? tive-te a ti. sempre ao meu lado. criaste-me. educaste-me. ensinaste-me tanta coisa. riste-te tanto. eu ri-me tanto. rimo-nos tanto. orgulhaste-te tanto. orgulhei-me tanto, orgulho-me tanto ainda. as pessoas sempre disseram que era a tua cara. que tinha o teu feitio. que era igualzinho a ti. às vezes, quando tavamos chateados, eu até me mostrava incomodado com isso, só pra te chatear. mas eu sentia um orgulho tão enorme por dentro, por dizerem isso. mas que orgulho! contudo, nunca o senti tanto, quando o diziam nestes ultimos dias a mim. mesmo me fazendo chorar, eu adorava ouvir. e não me importava que o dissessem pra sempre. acredita. mas de todas as frases que ouvi, não houve uma que me tivesse tocado tanto como esta:'os olhos dele, parecia que brilhavam quando ele te via... faz o que tens vindo a fazer. ele vai gostar sempre de ti.'. ouvi isto. não consegui conter, e tudo desabou. as forças essas, foram-se no momento. e eu não podia ficar assim. não podia mesmo. tu não me querias ver assim, de certeza. reanimei. teve mesmo de ser. tu eras forte, e se eu sou igual a ti, também tenho de o ser. e levantei-me. agora só te quero dizer que onde quer que estejas, vou estar sempre contigo. porque o que ficou comigo foram apenas as boas memórias. as boas recordações de quando iamos ao café os dois. quando me pedias pra ir contigo. quando me levavas a passear. quando ficavamos tardes inteiras fora de casa ao ponto de deixarmos tudo preocupado à nossa procura. os teus presentes inesperados. as tuas surpresas. os teus amuos. as nossas chatices. as nossa reconciliações, e os abraços que delas advinham. éramos tão parecidos. não sei quantificar o quanto foste, o quanto és, e o quanto serás sempre pra mim. acho que não tem número mesmo. e tambem não haveria palavras pra conseguir descrever todo o sentimento que aqui vai. eu precisava tanto de ti ainda. espero que seja apenas uma passagem isto. falta apenas um dia para este processo doloroso e burocrático terminar. um dia para toda a matéria que transportava essa alma boa ser reduzida... a nada. a tua personagem, nesta vida que não passa de um teatro onde entramos apenas uma vez em cena, vai ficar sempre na ribalta, sentida e lembrada com muita saudade, e guardada no coração de todos aqueles que te adoravam, como eu. Obrigado por teres feito de mim, teu neto, meu avô.